Quanto o Spotify paga por play? · Inset (2023)

No passado, não era tão difícil para um artista saber quanto poderia ganhar com suas obras. Os valores gerados por cada CD, disco de vinil e downloads pagos eram bem mais previsíveis. Mas isso ficou lá, no passado. Na era do streaming, todos os cálculos se tornaram muito mais complexos, e a pergunta “quanto o Spotify paga” tem mais de uma ou duas respostas.

Criada na Suécia em 2006, a plataforma revolucionou um mercado de difícil acesso e tomado pela pirataria: para se ter ideia, segundo estudos locais, em dois anos o consumo ilegal de músicas caiu 25% no país. Hoje, o Spotify tem mais de 400 milhões de usuários mensais ativos e é o maior serviço de streaming musical do mundo, representando 31% desse mercado. Os dados são do Midia Research, referência em insights de audiência e análise de tendências globais.

Quanto os artistas ganham no Spotify?

Entretanto, apesar de todos os benefícios que o Spotify trouxe aos ouvintes e à indústria, eles não são tão generosos quando se trata dos devidos pagamentos. Apesar da popularidade, a plataforma é criticada há muito tempo por artistas que acreditam que deveriam ganhar mais com os streams, que valem frações de centavos.

• Em 2020, um relatório doBusiness Insider descobriu que o valor médio pago por cada reprodução é de impressionantes… US$ 0,003 a US$ 0,005. Ou seja, para ganhar apenas 1 dólar, é preciso garantir cerca de 250 streams. E ainda assim o dinheiro não é pago diretamente aos artistas.

Como o Spotify paga os artistas

O “suado” dinheiro dos streams tem um longo caminho até chegar ao bolso do seu cantor ou banda favorita. Os royalties da plataforma (valor pago para se usar e comercializar uma música) são pagos mensalmente para os detentores dos direitos das obras, que normalmente são gravadoras, distribuidores, agregadores ou sociedades de gestão coletiva. E são essas organizações que pagam os artistas de acordo com seus contratos individuais.

A própria plataforma explicou em um vídeo que “Os artistas e compositores escolhem seus titulares de direitos e os acordos sob suas músicas, inclusive dando permissão para elas estarem no Spotify. Em troca, o Spotify paga esses titulares e, então, eles pagam os artistas e compositores.”

Como o Spotify calcula os pagamentos

Por mais que a estimativa geral seja de US$ 0,003 a US$ 0,005 por stream, esse também não é um valor absoluto. O serviço não estabelece um valor fixo por reprodução, alegando não fazer sentido existir uma taxa por stream, já que os próprios ouvintes não pagam por cada música que escutam.

Sendo assim, entram uma série de variáveis para precificar cada uma das reproduções, o que faz com que nem todos os streams tenham o mesmo valor. Eles dependem de fatores como o tipo de conta dos ouvintes (se é gratuita ou Premium) e até do país de origem de cada um.

Um relatório de 2020 do distribuidor de músicaiGroove mostrou que, na época, os ouvintes do Reino Unido, por exemplo, pagavam US$ 0,0049 por transmissão, enquanto os ouvintes dos Estados Unidos pagavam US$ 0,0035.

Isso porque o Spotify considera também o preço da assinatura em cada país. Por exemplo: de acordo com o iGroove, em 2020, uma assinatura do Spotify Premium na Índia custava apenas uma fração do que era pago na Dinamarca: enquanto no país europeu custava o equivalente a US$ 15,65, um usuário premium na Índia pagava apenas US$ 1,60 por mês.

• De acordo com os cálculos da distribuidora, no Brasil, cada stream vale em média US$ 0,001294613594, sendo necessários 1 milhão de streams para gerar um ganho de US$ 1.294,61.

Em uma comparação feita em 2020 entre 79 países, a Islândia ficou em primeiro lugar no ranking de valor por stream: US$ 0,006182899879, pagando US$ 6.182,90 a cada milhão de reproduções. Por um milhão de streams no país, o valor pago na época era quase nove vezes o que era oferecido pela mesma quantidade em países como Marrocos, Tunísia e Argélia.

Por isso, é importante considerar não apenas o número de reproduções por si só, mas também de quais países eles são gerados. Mas como sempre dá pra complicar mais um pouquinho, não basta se basear apenas no valor pago por stream para considerar um país importante ou não.

A Islândia, por exemplo, é o país com o melhor retorno, mas com uma população de apenas 366 mil habitantes já não se torna tão interessante para grandes estratégias. Países com uma grande população como Índia e México, por exemplo, já são mais atraentes por causa do tamanho. Mas em contrapartida, é necessário garantir um fluxo muito maior de reproduções por causa do menor valor gerado por reprodução.

Segundo o iGroove, considerando não apenas o pagamento por stream, mas também o número de habitantes, os mercados mais interessantes são Reino Unido, Austrália, Japão, Estados Unidos, Alemanha e França.

Além do valor das assinaturas em cada país, também entram nessa conta as receitas de publicidade, que também variam entre os mercados. Ou seja, os números estão em constante mudança, assim como o pagamento aos artistas.

Lembrando que cada provedor de streaming trabalha com diferentes modelos de cálculo. A concorrente Apple Music, que segundo o Midia Research representa 15% do mercado global de streaming musical, pagou, em média, um centavo por stream em 2021, de acordo com oWall Street Journal.

Além de tudo isso, para se chegar ao valor final de pagamento, a plataforma divide a quantidade de streams que a detentora da música obteve durante o mês pela quantidade total de reproduções da plataforma, calculando a porção do todo pertencente àquela empresa.

Em um esforço para ser mais transparente com artistas e ouvintes, o Spotify lançou oLoud and Clearpara responder algumas das perguntas mais frequentes em relação a isso. Em um de seus relatórios, a plataforma alega que pagou US$ 7 bilhões em royalties em 2021 aos detentores dos direitos, e que pela primeira vez, mais de mil artistas ganharam mais de US$ 1 milhão com royalties em sua plataforma.

Como o Spotify ganha dinheiro

Após deduzir impostos, taxas de processamento de cartões de crédito, cobranças e outros gastos, o Spotify absorve sua receita líquida, que é originada em duas frentes: as assinaturas do Plano Premium (que no Brasil sai por R$19,90 a versão mais básica) e os anúncios veiculados em seu Plano Free, que em 2021 tiveram um aumento de 75% em relação ao ano anterior. Dessas duas receitas somadas, a plataforma separa dois terços para pagar royalties e um terço vai para o próprio Spotify.

É exatamente por serem essas as fontes de renda da plataforma que o valor do stream varia de acordo com cada país, já que aassinaturado serviço também muda em cada um deles de acordo com os valores competitivos em cada mercado.

Segundo o Midia Research, o Spotify chegou a 172 milhões de usuários pagantes no penúltimo trimestre de 2021, o que fez com que a receita total da empresa aumentasse 27%, chegando a € 2,5 bilhões - o equivalente a R$ 12,9 bilhões na cotação atual.

Os 10 artistas mais bem pagos do Spotify

Tudo isso dito e feito, há um fato concreto no meio de toda essa enorme rede de cálculos: as maiores estrelas mundiais conseguem, sim, obter um bom lucro vindo do Spotify. Mas para isso, é necessário ser do nível do The Weeknd pra cima.

Em 2021, os dez artistas mais bem pagos do Spotify faturaram US$ 337.485.480, gerados por 135 bilhões de streams.O dado é da revista estadunidense Top Dollar, publicação especializada no mundo financeiro.

A maior fatia do bolo ficou com o rapper Drake, que lidera o ranking. Foram 21,5 bilhões de plays, que se converteram em US$ 52,5 milhões de rendimento. Inclusive, o artista figura no Top 5 anual desde 2015.

O lucro do canadense é 37% maior que o segundo colocado, o colombiano J Balvin, que recebeu 15,5 bilhões de streams que geraram US$ 37,9 milhões. O norte-americano Post Malone completa o pódio, com 15,3 bilhões de streams e US$ 37,5 milhões.

A única artista feminina no Top 10 é Ariana Grande, que ficou em oitavo lugar com 11,1 bilhões de streams e US$ 27,2 milhões de lucro. O Top 100 dos artistas mais bem pagos conta ainda com duas brasileiras: Anitta na posição 76, com 2,8 bilhões de plays e lucro de US$ 6,8 milhões (R$ 32,2 milhões com a cotação atual), e a eterna Marília Mendonça em 78º lugar, com 2,7 bilhões de execuções e rendimento de US$ 6,6 milhões (R$ 31,3 milhões com a cotação atual).

O ranking foi elaborado considerando os 100 artistas vivos mais ouvidos até janeiro de 2021, com base nos dados dosite Kworb, que acompanha as execuções diárias de diversas plataformas.

Confira a lista completa:

1. Drake (hip hop), com 21,5 bilhões de streams que geraram US$ 52.546.150
2. J Balvin (reggaeton), com 15,5 bilhões de streams que geraram US$ 37.904.012
3. Post Malone (hip hop), com 15,3 bilhões de streams que geraram US$ 37.577.611
4. Bad Bunny (reggaeton), com 14,8 bilhões de streams que geraram US$ 36.227.528
5. Ed Sheeran (pop), com 14,7 bilhões de streams que geraram US$ 36.014.920
6. Justin Bieber (pop), com 13,5 bilhões de streams que geraram US$ 33.094.199
7. Ozuna (reggaeton), com 12,4 bilhões de streams que geraram US$ 30.393.120
8. Ariana Grande (pop), com 11,1 bilhões de streams que geraram US$ 27.205.449
9. Khalid (R&B), com 9,7 bilhões de streams que geraram US$ 23.776.766
10. The Weeknd (R&B), com 9,3 bilhões de streams que geraram US$ 22.745.724